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Por que emoções ruins são boas

Sawubona, “sawubona” é a palavra Zulu para olá. Há uma bela e poderosa intenção por trás da palavra porque sawubona literalmente traduzido significa: “Eu te vejo, e vendo você, eu te faço ser.” No mundo que estamos vivendo não aprendemos a ser seres completos, e a viver nossos sentimentos por inteiro na completude de nossas emoções. Não aprendemos a nomeá-las, reconhecê-las ou mesmo honrá-las.

Quando oprimidos por uma situação difícil pensamos imediatamente; “Eu só queria que esses sentimentos desaparecessem.” Mas, na verdade, esses sentimentos são parte da nossa realidade, e esses sentimentos, mesmo os mais difíceis, são o que nos tornam seres humanos inteiros.

“Não se preocupe”. “Anime-se.” “Só vibrações positivas”. Quantas vezes ouvimos essas frases em meio ao caos de nossas vidas, nossa cultura encontra uma maneira de nos dizer que nossas emoções difíceis são indesejáveis e improdutivas. Mas ao contrário dessas mensagens, as chamadas emoções “negativas” são normais, e aceitar nossas emoções menos prazerosas pode ter benefícios tangíveis e poderosos. A visão tradicional enxerga nossas emoções mais difíceis; tais elas como a tristeza, a raiva, a ansiedade e a dor, como sendo boas ou ruins, positivas ou negativas, mas essa visão é rígida, e a rigidez diante da complexidade dessas emoções é tóxica.

Precisamos de maiores níveis de habilidade emocional, a capacidade de estar com todas as nossas emoções, para aprendermos a verdadeira resiliência e evoluir como seres humanos. Se você está experimentando medo e dor no seu dia a dia agora, não tenha dúvida, que presenciara o tempo todo em suas mídias sociais teorias para “encontrar o lado bom”.

Considero isso como uma tirania. Vivemos hoje a tirania da positividade. É cruel e ineficaz. Pessoas com câncer, por exemplo, são automaticamente instruídas a permanecer positivas. Indivíduos que foram marginalizados e discriminados, instruídos a pararem de ficar tão irritados. Ao contrário do que nossa cultura nos diz, esses sentimentos chamados “negativos” são normais. Este é um fato fundamental. Estamos programados para nos sentirmos negativos às vezes. É simplesmente parte da condição humana. A ênfase da sociedade em ser positiva é apenas mais uma forma de patologização as flutuações normais de nossas emoções.

A nossa cultura, implora às pessoas para serem positivas, e é claro que eu reconheço que as culturas são diferentes, nesse caso, estou falando especificamente de culturas em que a ideia de positividade forçada ou apenas “manter a calma e continuar”, está arraigada na própria cultura. Muitos de nós ficamos condicionados a ideia de que felicidade é supostamente “o topo da montanha onde devemos chegar”. E o que a hegemonia da felicidade na verdade faz , é ignorar nossas experiências difíceis, e, portanto, não nos traz para a plenitude dos seres inteiros que somos; seres capazes de suportar a realidade dessas experiências difíceis.

E como se nossa cultura não suporta a capacidade de estarmos inteiros com as nossas emoções difíceis, e como resultado o que muitas vezes acabamos fazendo; a engarrafamos, empurramos de lado, racionalizamos, ou suprimimos e negamos.

As pesquisas são claras sobre isso, as pessoas que sucessivamente se esforçam para a felicidade como um objetivo, com o tempo, realmente se tornam menos felizes. Há uma certa expectativa e quando não suprida segue acompanhada de decepção. Quando as pessoas estão excessivamente focadas em serem felizes, o que elas estão fazendo muitas vezes não é viver no mundo como ele é, mas sim um mundo como eles gostariam que fossem.

No meu trabalho, muitas vezes tenho pessoas que me dizem coisas como, “Eu não quero sentir, eu não quero sentir o estresse. Eu não quero sentir ansiedade, ou estou com muito medo da situação agora, e eu só queria que esse sentimento desaparecesse.” E eu entendo, em um nível tão profundo, eu entendo. Tenho minha próprias tristezas e medos. Estou enfrentando uma situação desafiadora recentemente e isso é difícil, mas quando desejamos afastar nossas emoções difíceis, ou quando desejamos que nossas emoções difíceis simplesmente não existissem, estamos negando a existência humana, pois só quem está morto nunca fica estressado. Só pessoas mortas nunca passam por dificuldades. Só pessoas mortas nunca experimentam a decepção que vem com o fracasso. Emoções duras fazem parte do nosso contrato de vida. Não temos uma carreira significativa, criamos uma família, e mudanças no mundo, sem estresse e desconforto.

O desconforto, simplesmente, é o preço da admissão para uma vida significativa. Então, não queremos engarrafar ou tentar afastar nossas emoções difíceis, mas também queremos ter cuidado para não pensar e ficar presos nelas, porque quando ficamos presos em emoções difíceis, estas então passam a mandar em nossas vidas. E isto tampouco é saudável. Pois entramos num ciclo onde nossas emoções estão nos controlando: “Você está triste. Você não quer sair da cama, e então fica na cama.” Elas estão dando ordens. Mas nós é quem precisamos dar as ordens em nossas próprias vidas. Quando suprimimos ou tentamos acabar com nossas emoções difíceis, isso simplesmente não funciona. Psicólogos chamam isso de amplificação. É como aquele delicioso pedaço de bolo de chocolate na geladeira, quanto mais você tenta não pensar sobre ele, maior é o poder dele sobre você.

Simplificando, sentimentos de medo, ansiedade, tédio e agitação são partes normais e saudáveis da nossa vida mental. Isso é duplamente verdade em tempos de crise. Então, se você estiver lutando com emoções difíceis, você poderá estar se perguntando, “como seria uma maneira boa e saudável para eu processá-las, e também se elas estão prejudicando a minha vida?”

Quando pessoas estão lutando com emoções difíceis, mesmo sem perceber usam estratégias para lidar com isso mesmo que a nível inconsciente.As estratégias são bem úteis e servem para um propósito; tanto as de curto prazo quanto as estratégias a longo prazo.

Se fizeres uma auto análise você descobrirá qual provavelmente estás usando; as que são mais eficientes versus menos eficazes como a procrastinação por exemplo? No fundo, a procrastinação é uma maneira de lidar com uma situação difícil e desconfortável. A procrastinação não ajuda porque muitas vezes cria problemas agravados. O trabalho se acumula, e agora você não só estará lidando com o trabalho, mas com um prazo estressante e talvez até mesmo um chefe irritado.

Outro exemplo de uma estratégia de enfrentamento ineficaz de curto prazo é comer demais, ou beber muito, dormir demais, se viciar em mídias sociais, basicamente qualquer coisa que use evasão sutil e possa levar a problemas agravados, todos vão para o pacote dessas estratégias de enfrentamento que podem trazer mais problemas, a longo prazo.

Também podemos recorrer a estratégias de enfrentamento de curto prazo e que são eficazes, como; dormir o suficiente, engajar-se no auto-cuidado, o que não é o mesmo que procrastinação quando vem de um reconhecimento de seus valores, que você é importante, que você precisa cuidar de si mesmo, e é uma escolha intencional que é isso que você quer fazer agora. O exercício também é uma das estratégias de enfrentamento de curto prazo mais eficaz que conhecemos. É claro que a melhor maneira de avançar em momentos que estamos vivenciando circunstâncias difíceis é pensar além de estratégias de enfrentamento a longo prazo a longo prazo.

Em geral, seria quando você sai da sua cabeça e entra na realidade da sua vida, para realmente fazer algo, mesmo que esse algo te faça se sentir desconfortável, essas estratégias diretas ativas são fundamentais.

Por último, um lembrete: Você não precisa lidar com suas emoções difíceis sozinho. Na verdade, você não deveria lidar com elas sozinho. Peça ajuda, seja de um colega, um amigo, um terapeuta, ou mesmo um centro de ajuda ao próximo, você não está sozinho. Por favor, saiba disso. Também sabemos que nossas emoções mais difíceis realmente nos ajudam a formar um pensamento mais crítico.

Então, o que começamos a ver é que essas emoções difíceis, embora muitas vezes dolorosas, têm um efeito muito poderoso em nos ajudar a ter uma imagem completa, uma completa noção de como encontrar um caminho a seguir. Então, para que sejamos seres humanos inteiros, criativos, produtivos e eficazes, não podemos estar apenas no espaço onde tentamos ser felizes. Na verdade, precisamos nos abrir para a realidade de trabalharmos em nós as emoções mais difíceis e permitir que essas emoções fortaleçam nosso caráter. Rebecca Solnit, em seu livro, Hope In The Dark, (esperança na escuridão) descreve isso, “dentro da palavra emergência, é a palavra emergir. De uma emergência surgem coisas novas.

As velhas certezas desmoronaram rapidamente, mas perigo e possibilidade são irmãs. Nosso movimento em direção a uma vida melhor no aqui e agora no presente, começa com a vivência de situações difíceis. Quando vivemos a situação difícil de forma simples, plenamente, com aceitação, até os piores demônios geralmente recuam. Simplesmente pelo fato de nomearmos situações assustadoras conseguimos anular seu poder.

Décadas de pesquisas psicológicas mostram que nossa satisfação com a vida, diante de preocupações inevitáveis, arrependimentos e experiências tristes, não depende tanto de quantas dessas coisas experimentamos ou mesmo de sua intensidade, mas sim da maneira como lidamos com elas. Será que nós estamos engarrafando, afastando essas experiências difíceis, ou mesmo permitindo que eles governem nosso comportamento, ou estamos fazendo o que seria mais saudável, mostrando-lhes compaixão com curiosidade e aceitação?

A segunda maneira poderosa de reconhecer nossos pensamentos, emoções e experiências difíceis, e não deixá-los nos controlar, não deixá-los nos enganchar, ou impulsionar nossas ações, fazendo a simples escolha do que deixar de lado. O que deixamos de lado em tempos de crises será diferente de pessoa para pessoa. Para alguns, pode ser deixar de lado a expectativa do que é normal. Às vezes você vai deixar de lado uma experiência passada que é difícil, e deixá-la ir lhe será muito útil nesse momento. Às vezes vai significar perdoar alguém no aqui e agora, reconhecendo que estamos fazendo o melhor que podemos em circunstâncias anormais.

Às vezes deixar ir significa perdoar a si mesmo. Apenas dizer a palavra, “solte, solte”, é suficiente para trazer uma sensação de esperança e alívio, mas essas mesmas palavras, “solte”, também podem causar ansiedade de que seremos deixados sem nada, que teremos nos resignado a uma situação sem esperança. Mas na verdade, quando deixamos de lado uma coisa que está nos mantendo aprisionados, ficamos com todo o resto.

O que eu encorajaria você a fazer com suas emoções difíceis, em vez de resistir a elas é fazer o oposto, o inesperado em um mundo que sempre pensa que precisamos fazer algo.

E é isso, não faça nada. Não tente acabar com isso, mas tente estar acordado. Estar acordado para o cuidado, a perda, a abertura, a confusão, o sobrecarga. Para tomar decisões que combinem com a maneira como você espera viver daqui para frente, você tem que estar aberto às coisas que importam para você agora e usá-las como sinalizadores. Não se trata de passividade. Não se trata de dizer: “É assim que eu me sinto, e não há nada que eu possa fazer sobre isso;” Seria simplesmente se abrir para as emoções como elas são”.

Somos grandes o suficiente para ter todas as nossas emoções. Reconhecendo que muitas vezes, quando estamos presos em nossos sentimentos mais difíceis, podemos nos tornar a nuvem: “Estou triste. Estou com raiva. Estou chateado, mas na verdade, não somos a nuvem. Nós somos o céu. Isso é tudo por hoje.”

Sawubona,

Lidiane-Lopes-de-Albuquerque

Psicóloga
Lidiane Lopes de Albuquerque
@totally.adhd